Este artigo apresenta os principais mitos e crenças a respeito de pessoas com Altas Habilidades (AHs): mitos de constituição, distribuição, identificação, níveis ou graus de inteligência, desempenho, consequências e atendimento.
Constituição
Os mitos de constituição são fundamentados por teorias que especulam as origens das AHs e as características inatas destas pessoas. Assim, denota-se o antagonismo entre as teorias geneticistas e as ambientalistas.
As teorias geneticistas apontam que AHs são características exclusivamente genéticas; porém não existe comprovação desse dado, em razão das limitações para calcular a herança genética, pois, implicaria em análises de um cérebro in vivo. Porém trata-se de uma ação ainda infactível. Já as teorias ambientalistas defendem que AHs se desenvolve no sujeito exclusivamente por meio da estimulação ambiental. No entanto, essa teoria também não foi comprovada. Atenta-se, que, o envolvimento com a tarefa e a resposta gerada é a consequências e não a causa. Ressalta-se que as pesquisas atuais consideram ambas as teorias.
Ainda em relação aos mitos de constituição, existem levantamentos que especulam que pessoas com AHs são produtos de pais organizadores e que conduzem e regram a vida dos filhos. Todavia, não se “cria” pessoas superdotadas. Em continuidade, dentre os fatores característicos destes sujeitos existe também a crença de que pessoas AHs são egoístas e solitárias, entretanto, é importante esclarecer que a preferência por um trabalho individual em muitas ocasiões ocorre em razão das diferenças em relação à faixa etária no que se refere aos mecanismos de aprendizagem.
Outro mito constitui-se pela ideia de que pessoas com AHs são “metidas” e “exibidas”. O que ocorre na maioria dos casos é a curiosidade por conhecimentos que não são aprofundados na classe; assim, é possível ocorrer questionamentos que podem atrapalhar o andamento da aula.
O último mito desta categoria remete a percepção errônea de que as pessoas com AHs são fisicamente frágeis e socialmente ineptas. Esses estereótipos advêm, principalmente, dos conceitos divulgados pela mídia. No entanto, é importante salientar que as características físicas ou de personalidade diferencia-se de uma pessoa para outra.
Distribuição
O mitos de distribuição se refere a concepção de que existem ocorrências maiores de AHs em parcelas específicas da população, como as classes privilegiadas e os homens; ou como características que podem ser fabricadas.
A ideia de que AHs pode ser manipulada provém daqueles que defendem uma falsa igualdade entre os cidadãos. Além do mais, também é uma visão estimulada por livros e publicações que recomendam “fórmulas” para o desenvolvimento de AHs.
“Não existem fórmulas que fabriquem pessoas com altas habilidades.”
– Psicóloga, Jéssyca Galvão.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) a estimativa de pessoas com AHs abrange qualquer população, independente, da raça, cultura ou situação socioeconômica; e ainda, em relação ao gênero, é importante destacar que existe a prevalência de incentivo para os homens, esse fato gera um número maior de identificações, e consequentemente a busca por atendimentos especializados por indivíduos do sexo masculino. Além disso, existem estudos quantitativos que invalidam esse pré-conceito.
Ainda em referência aos mitos de distribuição está a incidência de AHs, pois, acredita-se em um número pequeno de indivíduos portadores. Porém, observa-se que embora a (OMS) estime que 3,5 a 5% da população geral são pessoas com AHs, estes dados estão baseados somente nos escores superiores a 130 dos testes de Quociente Intelectual (QI). Estes instrumentos não identificam todos os tipos de AHs.
Identificação
Existem mitos que permeiam o processo de identificação. Dentre esses a crença de o reconhecimento fomenta a rotulação, acarreta em atitudes negativas e que não se deve identificar ou informar à criança que ela tem AHs.
Considerando as crenças em relação à rotulação, aponta-se que os próprios mitos referentes às pessoas com AHs podem acarretar em uma discriminação, pois, algumas ideias populares categorizam esses indivíduos como superiores se comparados com os demais sujeitos que não correspondem aos critérios para a classificação. No entanto, as consequências não seriam negativas se as pessoas fossem consideradas em sua singularidade.
“Cada criança tem características, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhes são próprios”.
– Declaração de Salamanca.
Por essa razão, a ideia de que a identificação ocasiona atitudes de vaidade, como o sentimento de superioridade, não deve ser ter validação, considerando que este é um fator que pode ser encontrado em qualquer individuo independente da classificação de AHs ou não.
Portanto, a identificação é importante, pois, permitirá o reconhecimento das necessidades e a busca por formas de atendê-la. E ainda, é importante que as crianças tomem conhecimento de suas particularidades, e também quanto à diversidade; do contrário podem camuflar as suas potencialidades e diferenças em prol da igualdade. Fato que pode gerar em adoecimento psíquico. Em suma, ressalta-se que a implantação de políticas públicas em proveito de benefícios para as pessoas com AHs também depende do processo de identificação.
“Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas ampliados de modo que tenha em vista toda a gama dessas diferentes características e necessidades”.
– Declaração de Salamanca.
Níveis ou graus de inteligência
Esta categoria refere-se ao conceito de que a inteligência pode ser quantificada e traduzida por número coeficiente. Logo, é errôneo classificar com AHs somente as pessoas que apresentam elevados índices nos testes de inteligência, pois, existem limitações no processo de identificação de determinadas habilidades nestes instrumentos.
Outro mito referente a esta categoria concerne à criatividade na mesma proporção para todos os sujeitos com AHs. É importante elucidar que a criatividade exige um comportamento inteligente, todavia, não existe um padrão de proporcionalidade.
“E o que temos de diferente que nos torna especiais e únicos”. – Autor desconhecido.
Desempenho
Acredita-se que as pessoas com AHs se destacam em todas as áreas do desenvolvimento humano, e também demonstram elevados índices no desenvolvimento escolar.
Contudo, em determinadas situações o alunos com AHs pode apresentar rendimento médio ou deficitário, em razão das dificuldades e os métodos de ensino pouco motivadores. Outro fator corresponde ao fato de que as matérias do currículo escolar podem não contemplar determinada habilidade do sujeito. Portando, adverte-se que uma pessoa com AHs pode desempenhar desenvoltura elevada somente para um campo especifico.
Consequências e atendimento
Outro mito remete as consequências nos comportamentos de sujeitos identificados com AHs. Pois, acredita-se que estão fadadas ao desenvolvimento de doenças mentais, desajustamento social e instabilidade emocional; além disso, o equivoco de que existe estabilidade do quociente intelectual; a idealização de crianças com AHs enquanto adultos bem sucedidos; a convicção que pessoas com AHs possuem facilidade nas mais diversas áreas; e a ideia de que pessoas com AHs não necessitam de suporte.
“O proposito da identificação, jamais deve ser de rotulação, mas sim motivo para estabelecer uma ação pedagógica adequada”. – Autor desconhecido.
Para os mitos elencados nesta categoria, é importante explicar que as doenças mentais, quando observadas, não foram classificadas como resultados diretos das AHs. Considerando os demais mitos, adverte-se que O QI pode passar por modificações ao longo dos estágios do desenvolvimento humano. Dessa forma, é importante o fornecimento de suporte e acompanhamento especializado adequado, para auxiliar no progresso dos potenciais.
Posto isto, embora os sujeitos com AHs aprendam com mais facilidade, não se deve catalogá-los como àqueles que já sabem tudo e que possuem desempenho elevado em todas as áreas e atividades. O individuo com AHs também deve frequentar a escola como os demais que não se enquadram nesta condição, assimilar os conceitos e os hábitos sociais para constituir-se como um cidadão.
Deste modo, verifica-se a importância do atendimento educacional especializado. Como descrito anteriormente, acredita-se que as pessoas com AHs não necessitam deste atendimento. Porém, nos países em desenvolvimento, faz-se necessária essa aplicação, em razão de que o aluno ainda não é tratado de forma individualizada; destaca-se que a singularidade já é considerada para pratica educacional de países desenvolvidos.
Portanto, não se deve confundir, é fundamental que o sujeito com AHs seja beneficiado com os serviços educacionais especializados, no entanto, esses devem frequentar o ensino regular. As escolas especiais podem acarretar em uma visão parcial do mundo, e gerar dificuldades para o convívio em sociedade.
Considerando o âmbito educacional, deve-se advertir a respeito da aceleração para alunos com altas habilidades. Pois, inserir uma criança em um grupo com idade cronológica mais avançada implica em sujeitá-la a exigências emocionais e sociais diferentes das suas. Dentre as vantagens e desvantagens, se a aceleração for a melhor alternativa, faz-se imprescindível o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar.
Em síntese, é importante observar as dificuldades que as pessoas com AHs enfrentam para serem reconhecidas e atendidas com qualidade. Portanto, é primordial o reconhecimento das individualidades e diferenças, e a implantação de políticas públicas que visem corroborar contra a discriminação de sujeitos com AHs.
Elaborado por Jéssyca Galvão, psicóloga e Pedagoga – Especialista em Neuropsicologia e Avaliação psicológica.
O presente texto está baseado em Pérez, S. (2012)*.
Texto informativo, este não substitui um acompanhamento profissional realizado por um psicólogo.
*Referência: Pérez, S. (2012). Mitos e Crenças sobre as Pessoas com Altas Habilidades: alguns aspectos que dificultam o seu atendimento. Revista Educação Especial, 1(1), 45-59.